segunda-feira, 28 de março de 2011

VIDEOS - DEPRESSÃO: A DOR INVISIVEL


Bem, sou obrigada a concordar que textos sobre psiquiatria com todas as informações básicas necessárias definitivamente não combinam com textos curtos; eles não se misturam, assim como àgua e óleo.
Para facilitar a compreensão sobre o tema DEPRESSÃO, postarei aqui alguns videos que abordam o tema, assim como já foi feito no post sobre bipolaridade.
Trata-se de uma série exibida por um jornal EPTV da emissora EPTV de Ribeirão Preto no qual  foi abordado o tema depressão.

Vamos a eles:

 


A depressão é considerada o mal do século. Uma doença que não se vê. Especialistas defendem que este é um dos principais motivos para tanto preconceito e desconhecimento em relação à depressão, que atinge um em cada oito brasileiros. Uma doença incapacitante em muitos casos, em outros está associada a diversos transtornos graves.
Série de reportagens exibida pelo Jornal EPTV de Ribeirão Preto
O objetivo da série é ajudar quem tem depressão, e também quem convive com essas pessoas.
Na série de reportagens são contadas histórias de pessoas depressivas, suas limitações e seus medos.
Também foram ouvidos médicos psiquiatras, psicólogos e cardiologistas.



 


A depressão não está restrita apenas a uma faixa etária. Mas quando se trata de crianças e adolescentes, a família e a escola precisa perceber os sinais de pedido de socorro.
Isso porque, no caso das crianças, elas não pedem ajuda ou nem sabem o que está acontecento e o que estão sentindo.
A segunda reportagem da série Depressão, a dor invisível, exibida pelo Jornal da EPTV, aborda a doença entre os mais jovens e como detectar o problema.


 


A depressão é uma doença repleta de preconceito e desconhecimento.
Por isso, é preciso muita coragem para assumir publicamente ser depressivo ou que alguém da família tem a doença. São exemplos de pessoas com essa coragem que a série especial de reportagens "Depressão" mostrada pelo Jornal da EPTV de Ribeirão Preto.
A reportagem mostra que a depressão pode estar acompanhada de outras doenças, entre elas o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), que veio à tona depois que o cantor Roberto Carlos assumiu que sofre com este problema.
Além deste transtorno, as síndromes de ansiedade e muitas outras doenças podem estar associadas à depressão.  




 


Muitas pessoas, por resistência ou ignorância, não acreditam que a depressão é um doença que pode até levar à morte.
Os conselhos e posturas equivocadas podem fazer muito mal a quem está deprimido, levando até mesmo ao suicídio.
O assunto ainda é um tabu, mas os especialistas alertam que muitas vezes quem tem depressão grave, não diagnosticada e não tratada, pode querer tirar a própria vida.
Foi o que pensou em fazer uma dona de casa e um ídolo da Jovem Guarda. Essas são histórias que são contadas na quarta reportagem da série especial de reportagens "Depressão" .





 
A última reportagem da série especial "Depressão" exibida no Jornal da EPTV fala sobre os tratamentos e remédios que aliviam e melhoram a vida de quem tem a doença.
Quem superou o problema sabe que é preciso ter muita persistência e acreditar que com acompanhamento médico, mas, aos poucos, é possível resgatar o prazer em viver.





Perguntas sobre Depressão enviadas por telespectadores do Jornal EPTV.






terça-feira, 22 de março de 2011

DEPRESSÃO, DISTIMIA E DEMAIS TIPOS DE DEPRESSÃO



“Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado.
Quem diz que me entende, nunca quis saber.
Aquele menino foi internado numa clínica.
Dizem que por falta de atenção dos amigos, 

das lembranças, 
Dos sonhos que se configuram tristes e inertes...
Como uma ampulheta imóvel, não se mexe,

não se move, não trabalha.”

(Clarisse - Legião Urbana)




 
A DEPRESSÃO:

Provavelmente, hoje em dia, a doença da mente sobre a qual mais ouvimos falar é a depressão. Não por simples modismo, mas porque é uma das mais freqüentes doenças mentais. 
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a depressão já é hoje uma das maiores causas de adoecimento da população. Pior, segundo as projeções, por volta do ano 2020, estará no segundo lugar entre as doenças que causarão maior perda de qualidade de vida e risco de morte, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares.
Depressão é uma palavra freqüentemente usada para descrever nossos sentimentos. Todos se sentem "para baixo" de vez em quando, ou de alto astral às vezes e tais sentimentos são normais. A depressão, no entanto, é bastante diferente: é uma doença como outra qualquer que exige tratamento.
Muitas pessoas pensam estar ajudando um amigo deprimido ao incentivarem ou mesmo cobrarem tentativas de reagir, distrair-se, de se divertir para superar os sentimentos negativos. Os amigos que agem dessa forma fazem mais mal do que bem.
A melhor forma de ajudar uma pessoa com depressão é procurar ouvir o desabafo de quem está deprimido, ou ainda, aconselhar a procurar um profissional, quando percebe que o amigo deprimido não está só triste.
É importante compreender que a pessoa deprimida tem dificuldade em enxergar a saída para seus problemas. O individuo fica tão perdido em meio à sua dor, que não consegue ver uma solução, uma luz no fim do túnel.
Os sintomas da depressão variam de acordo com a personalidade de cada um. Por isso as reações são diferentes em cada pessoa.
A gravidade e freqüência destes sintomas variam muito de um deprimido a outro, podendo ser intermitentes ou ainda ter a predominancia da lentidão física e mental, com inibição (decorrente da timidez, medo, ou falta de ânimo para realizar tarefas) e ansiedade. No caso da depressão psicótica, pode-se observar intensa agitação psicomotora ou estupor depressivo (estado caracterizado por falta de comunicação, ausência, diminuição profunda ou bloqueio dos movimentos voluntários e falta de resposta psicomotora), com alucinações, idéias deliróides e/ou obnubilação (isto é, obscurecimento) da consciência. (Mayer-Gross e cols, 1976; Goodwin e Jamison, 1990).
Uma boa comparação que podemos fazer para esclarecer as diferenças conceituais entre a depressão psiquiátrica e a depressão normal seria comparar com a diferença que há entre clima e tempo. 
O clima de uma região ordena como ela prossegue ao longo do ano por anos a fio. O tempo é a pequena variação que ocorre para o clima da região em questão. 
O clima tropical exclui incidência de neve. O clima polar exclui dias propícios a banho de sol. 
Nos climas tropical e polar ocorrerão dias mais quentes, mais frios, mais calmos ou com tempestades, mas tudo dentro de uma determinada faixa de variação. 
O clima é o estado de humor, e o tempo as variações que existem dentro dessa faixa. 
O paciente deprimido terá dias melhores ou piores assim como o não deprimido. Ambos terão suas tormentas e dias ensolarados, mas as tormentas de um, não se comparam às tormentas do outro, nem os dias de sol de um, se comparam com os dias de sol do outro.Os "dias frios e tormentas" de um depressivo são mais intensos e sofríveis, do que a da pessoa não depressiva, muito embora, ambas passem por tempos ruins.
Um dia "frio" para um, pode ser sentido como um dia "insuportavelmente frio" para o outro, e isso não tem relação com fraqueza; trata-se de uma caracteristica da patologia.
A grama do vizinho nem sempre é mais verde que a nossa...


O MECANISMO DE RECOMPENSA:

Antes de entendermos melhor o que é a depressão, precisamos compreender um mecanismo cerebral que está provavelmente envolvido nesta patologia.
A busca constante por estímulos prazerosos, como alimentos saborosos, uma cerveja geladinha e a relação sexual excitante, está associada a um "sistema cerebral de recompensa" ou somente, “mecanismo de recompensa”, assim denominado pelo neurobiólogo americano James Olds nos anos 60. Trata-se de uma complexa rede de neurônios que é ativada quando fazemos atividades que causam prazer. Este sistema nos fornece uma recompensa sempre que fazemos determinadas atividades, levando-nos, portanto, a repetir aqueles atos. Biologicamente, ele tem uma função específica e essencial: garantir a sobrevivência do indivíduo e da espécie, ao dar motivação para comportamentos como comer, beber e reproduzir-se.
Estes eventos ocorrem em “cascata” (ou seja, em seqüência). Usualmente, estando íntegras as estruturas do sistema "em cascata" e os neurotransmissores (como a dopamina e a serotonina) envolvidos funcionando normalmente, a "recompensa", expressa em sua forma mais significativa : sensação de bem-estar, é obtida se certas condições básicas são satisfeitas.
As falhas neste mesmo mecanismo estão envolvidas com o alcoolismo, uso de drogas, na compulsão pela comida e por sexo, e também na depressão.
Estima-se que em torno de 60 a 70% das pessoas que tem uma dependência química (seja àlcool ou demais drogas lícitas ou ilícitas), tem ao mesmo tempo algum outro tipo de transtorno ou sofrimento mental. Em especial, os transtornos ansiosos, os transtornos de humor e principalmente a depressão.
Esta é uma informação que muitas pessoas desconhecem
, e a dependência quimica  ainda  passa pelo crivo da ótica moral por parte  da sociedade; muitos acreditam que o dependente não deixa de usar estas substâncias por uma falta de caráter, por falta de força de vontade, etc.
O que nem todos sabem é que muitos destes casos podem ter um quadro depressivo, ou ainda outra patologia psiquiátrica concomitante.
Este importante tema será abordado em postagem futura. 


O QUE CAUSA A DEPRESSÃO?

Não se sabe ao certo o que causa a depressão. A causa mais provável é a de que ela seja resultante de um desequilíbrio bioquímico dos neurônios responsáveis pelo controle do estado de humor. 
Na pessoa com depressão, provavelmente ocorre uma falha no mecanismo de recompensa, o que faz com que ela tenha com menor freqüência sensações de prazer e bem-estar.
Esta hipótese baseia-se na comprovada eficácia dos antidepressivos. 
O fato de ser um desequilíbrio bioquímico não exclui tratamentos não farmacológicos. O uso continuado da palavra (uma conversa, um desabafo, o diálogo com o terapeuta durante a consulta), pode levar a pessoa a obter uma compensação bioquímica. Apesar disso nunca ter sido provado, o contrário também nunca foi.
Inúmeros estudos tentam encontrar a relação entre a depressão e certos eventos desencadeantes (situações que dão inicio ao episódio depressivo). No entanto, um evento estressante pode ser responsabilizado pelo aparecimento da depressão, mas não de sua manutenção, ou seja, a morte de um ente querido ou a perda do emprego pode desencadear a depressão, mas não mantê-la.
Na prática, a maioria das pessoas que sofre um revés se recupera com o tempo. Se os reveses da vida causassem depressão a todas as pessoas, todos nós nos tornariamos pessoas deprimidas, e não é isto o que se observa. Os eventos estressantes provavelmente disparam a depressão nas pessoas predispostas, isto é, vulneráveis.
São exemplos de eventos estressantes: perda de pessoa querida, perda de emprego, mudança de habitação contra vontade, doença grave. Pequenas contrariedades não são consideradas como eventos fortes o suficiente para desencadear depressão.
O que torna as pessoas vulneráveis ainda é objeto de estudos. A influência genética como em toda medicina é muito estudada. Trabalhos recentes mostram que mais do que a influência genética, o ambiente durante a infância pode predispor mais as pessoas. O fator genético é fundamental , uma vez que os gêmeos idênticos ficam mais deprimidos do que os gêmeos não idênticos.


O QUE É DEPRESSÃO?

A depressão e a bipolaridade são também conhecidas como doenças do humor, ou seja, são enfermidades nas quais ocorrem alterações do humor, no ânimo da pessoa, caracterizando-se por períodos de um quadro depressivo, e que no caso da bipolaridade, se alternam com períodos de quadros opostos, em que a pessoa se sente eufórica (mania).
Tem como uma das principais características, o sentimento de tristeza, falta de prazer e ânimo, desesperança, sendo que a pessoa pode ainda apresentar sintomas físicos, como enjôos e dores, entre outros.

SINTOMAIS MAIS COMUNS: 

Os sintomas mais comumente relatados são:
Sentir-se triste, durante a maior parte do dia, quase todos os dias;
• Perder o prazer ou interesse em atividades rotineiras (anedonia);

•Irritabilidade (pode substituir o humor deprimido em crianças e adolescentes);
•Desesperança;
•Queda da libido;
•Perder peso ou ganhar peso (não estando em dieta);
•Dormir demais ou de menos, ou acordar muito cedo;
• Sentir-se cansado e fraco o tempo todo, sem energia;
• Sentir-se inútil, culpado, um peso para os outros;
• Sentir-se ansioso;
• Sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decisões e dificuldade de memória;
• Ter pensamentos freqüentes de morte e suicídio.

ALGUMAS DICAS PARA IDENTIFICAR UMA POSSIVEL DEPRESSÃO:


Pergunte...


• Sobre coisas do dia-a-dia que o indivíduo gostava de fazer, como, por exemplo ver uma novela, brincar com o cachorro, ler o jornal, escutar música... A seguir, pergunte se ele continua fazendo e tendo prazer ao fazer tais atividades.
• Se ele se anima com coisas positivas que estão para acontecer, se tem esperança.
• Se a tristeza que ele está sentindo é diferente da tristeza que ele já sentiu quando viveu outras situações difíceis.
• Sobre desejo de estar morto, ou de se matar.
• Quando, além de depressão, a pessoa mostra-se desesperada, o risco de suicídio é maior.

A depressão pode ser classificada de acordo com a causa, com a presença ou não de um componente genético (história familiar), com os sintomas e com a gravidade do quadro.


CLASSIFICANDO A DEPRESSÃO:

A depressão pode ser classificada como: 
 
1) Primária (quando não tem uma causa detectável) ou secundária (atribuível a doenças físicas ou a medicamentos).

2) Genética, de acordo com o padrão de aparecimento em membros de uma mesma família (esporádica, espectral ou familiar).

3) Unipolar (quando não há ocorrência de episódios de mania) ou bipolar (quando ocorrerem sintomas intercalados ou concomitantes de mania).

4) Leve ou grave, de acordo com a gravidade dos sintomas e o grau de comprometimento funcional.


TIPOS DE DEPRESSÃO:

  • DEPRESSÃO REATIVA OU SECUNDÁRIA (CID  F32 e F33):

Surge em resposta a um estresse identificável como perdas (reações de luto), doença física importante (tumores cerebrais, AVC, hipo ou hipertireoidismo, doença de Cushing, etc.), ou uso de drogas (reserpina, clonidina, metildopa, propranolol, promazina, clorpormazina, acetazolamida, atropina, hioscina, haloperidol, corticosteróides, benzodiazepínicos, barbitúricos, anticoncepcionais, hormônios tireoidianos, etc). Corresponde a mais de 60% de todas as depressões.




  • TRANSTORNO DEPRESSIVO MAIOR (TDM) OU DEPRESSÃO UNIPOLAR (CID F32 e F33):

Atualmente o transtorno depressivo maior é reconhecido como um problema de saúde pública, pois tem grande prevalência na população, e devido ao impacto que causa no cotidiano do portador e de seus familiares. Estudos em vários países confirmam a grande quantidade de casos, sobretudo na população ocidental, e inclusive no Brasil.
É uma desordem depressiva endógena (ou seja, causada internamente), e que não tem relação causal com situações estressantes, patologias orgânicas ou psiquiátricas, caracterizando-se por episódios puramente depressivos em períodos variáveis da vida. A maioria destes episódios não tratados duram de 6 a 13 meses. Tratados, a maioria dos episódios dura cerca de 3 meses.
Ela é provavelmente resultante de uma pré-disposição do individuo, determinada por fatores hereditários e bioquímicos que produziriam uma diminuição na neurotransmissão central (isto é, uma ação deficiente dos neurotransmissores dopamina, noradrenalina e/ou serotonina) e/ou a diminuição na utilização destes neurotransmissores pelo cérebro. 
Durante o episódio, os sintomas depressivos são severos e intensos, impedindo o indivíduo de agir normalmente, havendo alto risco de suicídio se não tratado. Corresponde a cerca de 25% de todas as depressões.
O grande problema na detecção da depressão, é que ela está geralmente associada a outras doenças. Por exemplo, uma pessoa pode queixar-se de dores de estômago e procurar um  gastroenterologista. Este especialista pode identificar que a pessoa possui úlcera ou gastrite, mas não poderá identificar que o paciente também passa por um episódio depressivo. Estudos mostram que  50% a 60% dos casos de depressão não são detectados.
A depressão tem um impacto considerável na vida da pessoa, que não se restringe somente aos sintomas da doença (que por si só já são devastadores). O portador pode ter dificuldades em trabalhar, sair de casa, relacionar-se com outras pessoas, em estudar, etc.
Portadores de depressão utilizam mais os serviços médicos, têm diminuição da produtividade no trabalho e prejuízo da qualidade de vida, se comparados a portadores de outras doenças crônicas (como diabetes e hipertensão, por exemplo).
O TDM é a patologia psiquiátrica que mais freqüentemente aparece associada à distimia.
O TDM pode começar em qualquer idade (em média em torno dos 25 anos), mas existem dados que comprovam que a idade de inicio tem baixado cada dia mais.
Algumas pessoas podem ter episódios isolados de depressão maior e ter outra crise após vários anos, outras podem ter agrupamentos de episódios por um certo espaço de tempo, e ainda, algumas pessoas podem ter episódios recorrentes conforme envelhecem.
Cerca de 5 a 10% dos indivíduos que apresentaram um único episódio de TDM desenvolvem Transtorno Bipolar I.
Os episódios depressivos maiores podem terminar completamente (em cerca de dois terços dos casos), apenas parcialmente ou não terminar em absoluto (cerca de um terço dos casos).
Estudos comprovam que 1 ano após o diagnóstico do TDM, 40% das pessoas ainda apresentam graves sintomas, 20% continuam com alguns sintomas e 40% não apresentam mais os sintomas.
Aparentemente, quanto mais graves forem os sintomas, maiores são as chances de persistência destes sintomas.
Muito embora um fator externo não possa ocasionar o TDM, episódios de depressão maior podem ocorrer devido a um estressor grave (como a morte de um ente querido ou divórcio), sendo que estes fatores podem exercer papel mais significativo no primeiro e no segundo episódio depressivo, mas ter um papel menor no início de episódios subseqüentes.
Algumas doenças e dependência de substâncias como álcool e cocaína podem contribuir para o inicio ou aumento do TDM.
O risco de apresentar esta patologia é de 1,5 a 3 vezes maior, quando existe um parente de primeiro grau com este transtorno.

  • TRANSTORNO DEPRESSIVO MENOR OU DISTIMIA (CID F34.1):

A distimia é uma forma crônica (seus sintomas estão presentes por pelo menos dois anos em adultos) e incapacitante de depressão, onde a pessoa consegue relacionar-se socialmente, mas sem experimentar prazer. Seus sintomas são menos severos que o da depressão maior, contudo, manifestam-se por mais tempo.
Apesar dos sintomas mais brandos, o fato de serem sintomas constantes (crônicos) e a ausência do reconhecimento da doença fazem com que o prejuízo à qualidade de vida dos pacientes seja considerado maior do que nos demais tipos de depressão.
Os principais sintomas da distimia são: humor deprimido, sensação de desamparo, tristeza, angustia, dificuldade de concentração e para tomada de decisões, baixa auto-estima, baixo nível de energia, fadiga, problemas de sono, alterações do apetite, etc.
Os pacientes com transtorno distímico freqüentemente são sarcásticos, tem dificuldade em enxergar o sentidos das coisas e de suas vidas, são rabugentos, mal humorados, exigentes e queixosos. Eles podem ser tensos, rígidos e resistentes às intervenções terapêuticas. 

Apesar de o transtorno cursar com um funcionamento social relativamente estável, essa estabilidade é relativa, visto que muitas destas pessoas investem a energia que têm no trabalho, nada sobrando para o prazer e para as atividades familiares e sociais, o que acarreta atrito conjugal / familiar característico. Isso ocorre pois muitas vezes a pessoa precisa realizar um esforço além da média para manter as relações inter-pessoais.  Em alguns casos, a pessoa tenta vestir uma "máscara" de que está bem, e de que não está com problemas. Esta "máscara" é utilizada nas atividades diárias, e isso lhes causa um grande desgaste.
Ainda existe a questão da fadiga, que é outro sintoma de grande impacto na vida do distímico. Muitos relatam chegar em suas casas após as atividades diárias, totalmente exaustos, o que, associado aos demais sintomas da distimia, pode gerar os tão comuns problemas familiares.
Muitos podem supor sofrer de outra patologia, a bipolaridade, devido à diferença entre o humor dentro de casa e fora dela.
A distimia ocorre em uma parcela substancial da população (3 a 6%) e aumentando os riscos de transtorno depressivo maior.
É uma doença tratável, e que precisa receber maior atenção em virtude de sua elevada morbidade (ou seja, devido à sua alta incidência na população) e às consideráveis incapacitações que causa, e devido à elevada comorbidade (ou seja, ela pode estar associada a outras doenças)
Seus sintomas são menos intensos do que as chamadas depressões maiores, que aparecem padrão básico desses pacientes é um baixo grau de sintomas, os quais aparecem de forma traiçoeira e cruel, na maioria dos casos antes dos 25 anos, podendo surgir após esta idade também. Apesar dos sintomas mais brandos, os sintomas estão presentes por um longo período de tempo (mais de dois anos), e a ausência do reconhecimento da doença faz com que a pessoa sofra prejuízos na sua qualidade de vida (considerado maior do que nos demais tipos de depressão).
A distimia está associada a um aumento da utilização dos serviços de saúde e também ao aumento do consumo de drogas psicotrópicas. A diminuição da produtividade no trabalho e um aumento do risco de hospitalização e de doenças físicas (como aumento do risco de doenças cardiovasculares e respiratórias) também incrementam o custo econômico e social dessa patologia, tornando-a um problema de saúde pública que precisa ser identificado de forma mais eficiente. Cerca de 77% dos distímicos terão outras patologias psiquiátricas juntamente com a distimia.
Ela pode ser subdividida em dois tipo:

1) O primeiro tipo, a chamada "distimia ansiosa", é caracterizada por baixa auto-estima e insegurança. Ela é relacionada à deficiência de serotonina, e está relacionada a um estresse percebido (perda ou trauma passado, sensibilizador para um estresse futuro). Esses indivíduos são mais impulsivos e cometem mais freqüentemente tentativas de suicídio (mas com menor letalidade), tendendo a buscar ajuda. Este tipo é mais comum em mulheres, que tendem a automedicar-se com drogas ansiolíticas, como benzodiazepínicos, maconha, álcool e, mais comumente, abuso de comida (comportamento bulímico e/ou ganho de peso). Alguns desses pacientes exibem transformação para transtorno bipolar do tipo II.*

2) O segundo tipo de distimia proposto é a "distimia anérgica", caracterizada por baixa energia, baixa reatividade (a pessoa não reage a estímulos diversos; não se “anima”) e anedonia (perda da capacidade de sentir prazer, satisfação). Essa inércia psicomotora está relacionada com baixos níveis de dopamina. Esses pacientes são mais freqüentemente do sexo masculino, têm menor interesse sexual, são menos impulsivos, apresentam hipersônia (sentem muito sono) e tendem a não buscar ajuda. Uma parcela desses pacientes tende à automedicação com drogas estimulantes de abuso, como metanfetamina, cocaína, nicotina e cafeína. Alguns pacientes exibem transformação para transtorno bipolar do tipo I.*
A maioria dos pacientes distímicos irá desenvolver, em algum ponto da vida, episódios de TDM, sendo que alguns autores afirmam que TODOS os distímicos terão espisódios de TDM no decorrer da vida. A concomitância de distimia com TDM recebe o nome de DEPRESSÃO DUPLA (DD)
Episódios estressantes de vida são importantes desencadeadores de DD em portadores de distimia.

* (Ver post sobre transtorno afetivo bipolar)


  • DEPRESSÃO  BIPOLAR OU PSICOSE MANÍACO-DEPRESSIVA (CID F 31):

É também uma desordem primária, endógena e que se caracteriza por episódios depressivos alternados com fases de mania ou de humor normal, com estados de significativa mudança de humor do paciente (oscilações cíclicas do humor entre "altos" (mania) e "baixos" (depressão). 
(Ver post Transtorno Afetivo Bipolar). 

  • TRANSTORNO DEPRESSIVO SEM OUTRA ESPECIFICAÇÃO: 

A categoria "Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação", inclui transtornos com características depressivas que não satisfazem os critérios para Transtorno Depressivo Maior, Transtorno Distímico, Transtorno da Adaptação Com Humor Depressivo ou Transtorno da Adaptação Misto de Ansiedade e Depressão. Às vezes, os sintomas depressivos podem apresentar-se como parte de um Transtorno de Ansiedade Sem Outra Especificação. Exemplos:

1.) Transtornos disfórico pré-menstrual: na maioria dos ciclos menstruais durante o ano anterior, sintomas (p. ex., humor acentuadamente deprimido, ansiedade acentuada, acentuada instabilidade afetiva, interesse diminuído por atividades) ocorreram regularmente durante a última semana da fase lútea (e apresentaram remissão alguns dias após o início da menstruação). Estes sintomas devem ser suficientemente graves a ponto de interferir acentuadamente no trabalho, na escola ou em atividades habituais e devem estar inteiramente ausentes por pelo menos 
1 semana após a menstruação.

2.) Transtorno depressivo menor: episódios com pelo menos 2 semanas de sintomas depressivos porém com menos do que os cinco itens exigidos para Transtorno Depressivo Maior.

3.) Transtorno depressivo breve recorrente: episódios depressivos com duração de 2 dias a 2 semanas, ocorrendo pelo menos uma vez por mês, durante 12 meses (não associados com ciclo menstrual).

4.) Transtorno depressivo pós-psicótico da Esquizofrenia: um Episódio Depressivo Maior que ocorre durante a fase residual da Esquizofrenia.
5.) Um Episódio Depressivo Maior sobreposto a Transtorno Delirante, Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação ou fase ativa da Esquizofrenia.

6.) Situações nas quais se conclui que um transtorno depressivo está presente, mas é impossível determinar se ele é primário, devido a uma condição médica geral ou induzido por uma substância.


  • TRANSTORNO DE ADAPTAÇÃO COM HUMOR DEPRESSIVO:

O transtorno de adaptação (ou ajustamento) com o humor depressivo é uma forma leve de depressão reativa, que dura apenas alguns meses. A prevalência é semelhante entre homens e mulheres.
Os sintomas do transtorno de ajustamento com humor depressivo são os mesmos observados em outras depressões clínicas, porém, geralmente os sintomas são mais brandos.
A diferença entre o transtorno de ajustamento com humor depressivo e demais transtornos depressivos, é que os sintomas de transtorno de ajustamento começa a seguir após um estressor específico.
O distúrbio ocorre em resposta a alguma situação estressante ou circunstância específica.
Os fatores são variados, podendo ser um conflito conjugal, divórcio, problemas financeiros, perda de um emprego, conflitos comuns de uma amizade mais próxima, ter que se deslocar de bairro / cidade / pais, ter um amigo ou membro da família diagnosticado com uma doença grave, ser vítima de um crime, vivenciar uma catástrofe natural, etc.
Embora quase ninguém seria "estressado" por eventos como esses, a pessoa que experimenta um transtorno de ajustamento com humor deprimido tem mais sintomas de depressão do que outros que já experimentaram o mesmo estressor. Eles reagem de forma exagerada.
Uma segunda diferença entre o transtorno de ajustamento com humor depressivo e outras depressões é que os sintomas estão presentes por apenas um tempo após o término da situação estressante.
Normalmente, os sintomas diminuem e desaparecem dentro de poucos meses. Se os sintomas persistirem por mais de seis meses, há um outro problema que transtorno de adaptação.
A psicoterapia é útil no tratamento de um distúrbio de adaptação com humor depressivo, sendo que a terapia cognitiva é mais eficaz.
Embora a medicação possa ser usada, não é considerado o principal tratamento.
Durante a psicoterapia, o apoio emocional é oferecido. As estratégias de enfrentamento são ensinados e reforçados.
 


Subtipos de Depressão :



A depressão pode variar muito em relação a sintomas, história familiar, resposta ao tratamento e evolução. Alguns subtipos de depressão são claramente distintos, com implicações na escolha do tratamento e no prognóstico:





Depressão melancólica ou endógena:
Forma grave, com acentuado retardo ou agitação psicomotora, anedonia, humor não reativo a estímulos agradáveis, despertar matinal precoce, sintomas piores de manhã.

Depressão atípica:
Humor reativo a estímulos (a pessoa consegue se alegrar com estímulos agradáveis), inversão dos sintomas vegetativos (ao invés de insônia e falta de apetite, a pessoa tem hipersonia e aumento de apetite), ansiedade acentuada, queixas fóbicas.

Depressão sazonal:
Relacionada à luminosidade diurna, com episódios que se repetem no outono/inverno e sintomas atípicos. Mais freqüente em países com inverno rigoroso, melhora com fototerapia (exposição diária prolongada a luz forte).

Depressão com sintomas psicóticos:
Forma rara, porém grave, com delírios e alucinações.

Depressão pós-parto:
Ocorre entre 2 semanas a 12 meses após o parto, com risco maior em mulheres com antecedentes de depressão. Considera-se que o parto (e as mudanças que ele traz, hormonais e de vida) seja um potente estressor, desencadeando depressão em mulheres com tendência à mesma.


SUICÍDIO:


É extremamente importante salientar que existe alto risco de suicídio entre os depressivos.
Os transtornos mentais estão ligados a certa de 90% dos casos de suicídio, sendo a maior incidência, causada por transtornos de humor (bipolaridade, TDM, distimia, DD, etc)
Os transtornos do humor representaram 30,2% dos casos, seguidos pelos transtornos relacionados a substâncias (17,6%), pela esquizofrenia (14,1%) e pelos transtornos da personalidade (13%).
A taxa de suicídio entre depressivos é maior, se comparado a outros grupos de diagnósticos psiquiátricos (3,5 a 4,5 vezes) e muito superiores à média geral da população (cerca de 22-36 vezes).
As características dos depressivos que mais comumente cometem suicídio são: intensos sentimentos de desesperança, perda da reatividade do humor e história de poucas amizades na adolescência. Outra importante evidência é a de que a população de pacientes deprimidos que tenta suicídio tiveram poucos episódios anteriores de depressão maior (menos de três episódios), ou seja, quanto mais episódios depressivos, menores as chances de tentativas de suicídio. Este fato pode ser entendido como decorrente de um processo de acomodação do paciente a este estado.
Estudos apontam que 15% dos pacientes com depressões graves cometem suicídio, existindo, no entanto, estudos que apontam que estes índices podem ser cinco vezes maiores.
O suicídio é mais freqüente em meados da terceira década de vida.



TRATAMENTO:

 A depressão é uma patologia tratável, e seus efeitos, reversíveis, desde que tratada adequadamente.
É necessário o acompanhamento médico, onde serão utilizados antidepressivos. A psicoterapia em diferentes formatos (como psicoterapia de apoio, psicodinâmica breve, terapia interpessoal, comportamental, cognitiva comportamental, de grupo, de casais e de família) são importantes na busca pela melhora dos sintomas.
Mudanças no estilo de vida deverão ser efetuadas, objetivando uma melhor qualidade de vida.
Vale lembrar que existem diferentes tipos de depressão, sendo algumas mais graves que as outras. O tratamento que é útil para uma pessoa, pode não ter grandes efeitos sobre a outra. Portanto, cabe ao especialista avaliar qual o melhor tratamento a ser efetuado em cada caso.
Algumas medidas não farmacológicas também são muito importantes na luta contra a depressão. São elas:
 
1) Mantenha uma qualidade de vida saudável. Coma bem, faça exercícios diários e durma a quantidade certa de horas por dia (mínimo de 8 horas).
O ácido Ômega 3 é um remédio natural para depressão. Esta substância pode ser encontrada em diversos alimentos, principalmente em peixes e alguns tipos de óleo. Entretanto, os ácidos graxos Ômega 3 também estão presente em outros alimentos, como crustáceos, castanha da índia, nozes, rúcula, brócolis, amendoim, mamão, abóbora, sementes em geral, abacate, canola, soja e milho. 

2) Aprenda a conviver com os conflitos do dia-a-dia. Saiba gerenciar as crises que podem acontecer e não perca o equilíbrio.

3) Evite ficar sozinho. Saia com os amigos e divirta-se. Este é um modo de não se isolar do mundo. Viva a vida intensamente.

4) Procure ficar ao lado das pessoas que gostam de você. Compartilhe com elas seus sentimentos, desafios e expectativas. Ter uma parceria com cumplicidade é a melhor forma de ficar bem com o mundo. A participação da família é fundamental. Permita que os familiares se reunam com o psiquiatra / psicólogo. Os entes queridos são aliados na busca pela melhoria dos sintomas.

5) Se começar a sofrer de ataques de pânico, não hesite: procure ajuda médica especializada. Talvez este já seja um dos sintomas da depressão.

6) Invista em seus hobbies. Pintar, costurar, pescar, enfim, faça o que você gosta e relaxe.

7) Tente não fumar. A nicotina promove mudanças de humor. Isto pode gerar ansiedade e futuramente pode levar à depressão.

    * Importante:

- Coma bastante verdura, especialmente alface (o alimento é rico em Lactucina, substância que age como calmantes naturais no organismo)
-  Beba muita água. Alimentos saudáveis melhoram seu humor e evitam tais males como a depressão.
- Busque caminhar em ambientes abertos, pelo menos uma vez por semana.
- Ambientes fechados acabam gerando estresse. Portanto, saia e refresque a mente.


DEPRESSÃO E INTERNET:

Uma pesquisa australiana mostra que adolescentes que passam muito tempo conectados na internet, correm o risco de desenvolver depressão.
Segundo Lawrence T. Lam, pesquisador da School of Medicine, de Sidney, e da University of Notre Dame, com base nos resultados do estudo, mesmo jovens em bom estado de saúde mental podem sucumbir a uma depressão depois de um longo período de exposição ao uso problemático da internet. Para aqueles que já têm um histórico de problemas psicológicos ou psiquiátricos, as consequências mentais do uso problemático da internet podem ser ainda mais nocivas.
No estudo, os pesquisadores classificaram 6,2% dos adolescente com nível moderado de problema patológicos relacionados ao uso da internet e 0,2% com sérios riscos. Nove meses depois, os adolescentes foram reavaliados em relação à depressão e à ansiedade. Os pesquisadores constataram que 0,2% tinham sintomas de ansiedade e 8,4% desenvolveram depressão.


FONTES:


ONG FUNDAÇÃO SABER. A depressão e sua incidência nos dias de hoje. Disponível em: http://www.ongsaber.org.br/saude-do-homem/saude-mental/artigos/75  Acesso em março de 2011.


Marot, R. Depressão. In Psicosite. Disponivel em http://www.psicosite.com.br/tra/hum/depressao.htm Acesso em março de 2011.


Sabbatini, RME. Cardoso, SH. O sistema do prazer, as drogas e a sociedade. Revista Cérebro & Mente. Disponível em : http://www.cerebromente.org.br/n08/editorial08-recompensa.htm Acesso em março de 2011.


Oliveira, JM. Síndrome da Deficiência de Recompensa. Revista Cérebro & Mente. Disponível em : http://www.cerebromente.org.br/n08/doencas/drugs/sindrome.html Acesso em março de 2011.


Sadock, BI. Sadock VA. Kaplan & Sadock: Comprehensive TextBook of Psychaitry 6º Ed. 1995. Ed Lippincott Williams & Wilkins.


Kaplan, HI. Sadock, BJ. Grebb, JA. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7ª ed. Artmed. São Paulo, 2005.


Fleck, MPA et cols. Associação entre sintomas depressivos e funcionamento social em cuidados primários à saúde. Rev Saúde Pública. vol.26, n.4. Porto Alegre, 2002. Disponível em: http://www.scielosp.org/pdf/rsp/v36n4/11761.pdf Acesso em março de 2011.


Nicolau, PFM. Transtorno Depressivo Maior. In Psiquiatria Geral. Disponível em : http://www.psiquiatriageral.com.br/humor/td01.htm Acesso em março de 2011.

Spanemberg, L. Juruena, MF. Distimia: características históricas e nosológicas, e sua relação com transtorno depressivo maior. Rev. psiquiatr. vol.26, n.3 Porto Alegre, 2004. Disponível em : http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-81082004000300007  Acesso em março de 2011.


Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. Tipos de depressão.

Prieto, D. Tavares, M. Fatores de risco para suicídio e tentativa de suicídio: incidência, eventos estressores e transtornos mentais. J Bras Psiquiatr, vol.54, n.2. Brasilia, 2005. Disponivel em: http://www.ipub.ufrj.br/documentos/JBP%282%292005_10.pdf 
Acesso em março de 2011.


Projeto Conviver. Manual dirigido à profissionais da saúde em Centros de Atenção Psicossocial . Disponível em http://www.projetocomviver.org.br/html/port/textos/manual_capsuic.htm  Acesso em março de 2011.


Nicolau, PFM. Transtorno Depressivo Sem Outra Especificação. In Psiquiatria Geral. Disponível em : http://www.psiquiatriageral.com.br/humor/td03.htm  Acesso em março de 2011.


Stanley, H.P. Adjustment Disorder With Depressed Mood. In Depression help for you. Disponivel em: http://www.depression-help-for-you.com/index.html Acesso em abril de 2011.




domingo, 13 de março de 2011

Depoimento: EU TENTEI ME SUICIDAR...

Sinceramente eu tentei inúmeras vezes apagar essa cena da minha memória, mas creio que é melhor manter aquela tarde chuvosa ainda viva em minha mente. Como pude ao menos pensar nisso?
Na maioria das vezes eu finjo que aquele momento não ocorreu, que nunca desejei morrer, que sempre fui forte... mas essa lembrança sempre volta. Hora me assusta, hora me encoraja.
Minha vida estava caindo. Desempregada, vivendo de caridade alheia, grávida de uma pessoa totalmente problemática, acomodada e possessiva.
Não tinha ânimo nem para sair da cama. Minha casa era suja, escura, tinha um odor ruim. Os pratos ficavam na pia até formar mofo, e eu não tinha forças para sair do quarto, da escuridão. Somente chorava e me lamentava. A fraqueza que eu sentia era mental e fisica. Não era somente o meu corpo que estava caido; minha alma também estava. A dor era bem maior que eu, era maior que o mundo.
Olhava as demais pessoas e pensava: "como eu gostaria de ser ela" (qualquer pessoa, não fazia a menos distinção). Imaginava: "a vida dela é tão normal... Eu queria tanto uma vida simples e normal..."
Sentia-me só e humilhada. Vivia de favores dos outros. Sentia-me envergonhada por ter ficado grávida em uma situação tão complicada, e tendo como companheiro uma pessoa que estava tão ou mais deprimido que eu.
Tinha vontade de ir à luta, mas como? Grávida ninguém me daria um emprego. Mal podia sair da cama. Senti enjôos até o sexto mês de gestação. Passava o tempo todo deitada, sem comer, no escuro e no silêncio. Somente assim a náusea era um pouco menos intensa.
Meu então companheiro não queria trabalhar. Passávamos o dia inteiro trancados na escuridão, chorando, nos lamentando, pensando em como as coisas já foram melhores, e como nossa vida tornou-se uma total miséria. Eu tinha nele meu consolador e meu algoz. Se por um lado ele era a única pessoa que me ouvia e não me criticava, por outro, ele permitia que eu passasse por toda aquela miséria sem mover uma palha.
Quando éramos namorados, meu então companheiro tentou se matar duas vezes em minha frente quando tentei romper o relacionamento. Com medo de que ele fizesse uma tolice, cedi e permaneci com o namoro, e após, fomos morar juntos.
E lá estava eu... Grávida novamente e com uma filha pequena. Vivendo de esmolas, trancada em uma depressão, em uma tristeza e em uma escuridão tão grande, a qual eu nunca imaginei que eu um dia pudesse provar.
É engraçado que naquela época a gestação parecia eterna. Hoje eu vejo: era uma questão de tempo até o bebê nascer, eu arrumar um emprego, e resolver eu mesma a situação. Mas naquela época eu não conseguia ver uma luz no fim do túnel; para mim, aquela situação seria eterna.
Comecei a pensar que o melhor seria morrer. Quando era muito jovem, eu já havia pensado em suicidio quando perdi meu pai, mas agora a idéia havia voltado com força muito maior. A vontade de morrer tornou-se uma constante em minha mente. Aquilo tudo não tinha mais solução.
Pensei na minha filha tão amada, indefesa e pequena. Imaginei: Bem, a avó cuidará dela. Mas o pequeno ser que carrego em meu ventre?
Pensei, e respondi a mim mesma: farei o favor de não permitir que ela venha a este mundo miserável.
Fui até à cozinha, peguei a maior e mais afiada faca que achei, e tranquei-me no banheiro... Apenas eu, a faca e minha enorme barriga.
Mas e o medo de sentir dor? Bem, terei de suportá-lo...
Comecei a passar a faca bem lenta e fortemente pelo meu pulso. As forças eram ambíguas; se por um lado eu tinha medo de me ferir, por outro, queria acabar logo com aquele desespero...
E eu continuei... Tentei manter a mente o mais vazia possível para evitar que algum pensamento me fizesse mudar de idéia.
A sensação era de que eu estivesse em transe. Esforcei-me para manter a mente vazia. Aquela mesma mente tão cansada, mente tão sofrida... Cansada de tanta dor, de tanta humilhação, de tanto ódio de mim mesma, vergonha da minha  condição...
Então baixei o olhar. Vi aquela barriga enorme. Eu me sentia a grávida mais horrível do mundo. Estava com mais de cem quilos, e não gostava da minha barriga de gestante.
Porém, ainda assim, olhando para aquela "coisa feia!", lembrei-me que ali dentro havia alguém que não pediu para nascer. Não pediu para estar ali. Lembrei-me de um aborto da adolescência... Do meu ódio de mim mesma por ter sido tão fraca e covarde... Por não ter permitido que aquele bebê viesse à luz...
Pensei: Vou matar outra vez o fruto do meu ventre?
Aquela pergunta ecoou tão fortemente dentro de mim, que senti de imediato uma náusea e um desespero enorme.
Observei detalhadamente aquela barriga enorme. Eu não estava necessáriamente linda, mas aquela jóia preciosa que habitava meu interior era tão especial, tão indefeso, mas ao mesmo tempo tão forte, que decidi continuar lutando. Continuaria por mim e por aquele pequeno ser que estava sendo formado dentro de mim
Olhei para o pulso. Ainda não estava totalmente lacerado, mas já apresentava um corte. 
Cai em mim. Corri para a cozinha, joguei a faca na pia, lavei o pulso e o rosto, e disse a mim mesma: vou lutar mais um pouco. Não tenho forças, aparentemente está tudo destruído, mas eu vou tentar. Não sei se vou conseguir alguma coisa, mas continuarei lutando. Se não por mim, mas pelos meus filhos.
Naquela tarde eu decidi dizer SIM à vida, sim ao último fio de uma esperança sem fundamento lógico para mim, mas aquilo era tudo o que eu tinha.
Novas provas ainda me aguardavam, e posso garantir que foi tudo muito duro, mas eu dei a volta por cima.
Hoje ainda passo por momentos ruins, tenho frustrações, problemas, tristezas... tudo aquilo que qualquer ser humano tem, mas uma coisa eu lhe garanto: por pior que seja a vida, ainda vale a pena continuar lutando.
Quem tenta se suicidar não quer acabar com a vida, quer acabar com o sofrimento. Eu decidi levantar a bandeira da vida. Foi necessário bater de frente com a tristeza e com adversidade (com a qual bato de frente todos os dias), mas sei que viver AINDA é a melhor saída.
É preciso manter acesa a chama, por pior que seja a situação. Como diria a canção de Raul Seixas:

"Tente! Não diga que a canção está perdida,
 Tenha fé em Deus, tenha fé na vida.
Tente outra vez!"

Dedico este post à minha filha (Gisele), que hoje é um anjo lá no céu. Continue pedindo a Deus por mim, minha querida. Perdoe-me por tudo.

(Depoimento cedido por O., mãe de duas crianças, em São Paulo)



 

sábado, 12 de março de 2011

PREVENÇÃO DO SUICIDIO



Agora que entendemos um pouco sobre quais são os principais grupos de risco, iremos abordar o que fazer quando uma pessoa dá indícios ou deixa claro que pretende suicidar-se. Caso não tenha visto esse post, clique aqui.

Os dois pontos principais a serem observados são:
1) identificar a presença de ideações suicidas;
2) saber como ajudar.

Como vimos anteriormente, o suicídio está intimamente ligado à depressão, bipolaridade, esquizofrenia, transtornos de personalidade, além do abuso de substâncias como drogas ilícitas, álcool e medicamentos. Então falemos um pouco sobre cada um deles...


DEPRESSÃO:
A depressão é sem dúvida um dos maiores fatores de risco para o comportamento suicida (incluo no termo depressão sobretudo os transtornos de humor). 
O diagnóstico deve sempre ser feito por um profissional, contudo, algumas atitudes podem ser indicativas deste mal.
O que mais devemos saber sobre a depressão? Veja a seguir:

• Acomete, ao longo da vida, entre 10 e 25% das mulheres e entre 5 e 12% dos homens.
• Quanto mais precoce o tratamento, mais rápida a remissão, e menor a chance de cronificação.
• Entre os gravemente deprimidos 15% se suicidam.
• Cerca de 2/3 das pessoas tratadas respondem satisfatoriamente ao primeiro antidepressivo prescrito.

SINTOMAS DE DEPRESSÃO:


Os sintomas a seguir têm que estar presentes há mais de 2 semanas, trazerem sofrimento significativo, alterarem a vida social, afetiva ou laboral do indivíduo e não serem devido a um luto recente.

• Sentir-se triste, durante a maior parte do dia, quase todos os dias;

• Perder o prazer ou interesse em atividades rotineiras (anedonia);
• Irritabilidade (pode substituir o humor deprimido em crianças e adolescentes);
• Desesperança;
• Queda da libido;
• Perder peso ou ganhar peso (não estando em dieta);
• Dormir demais ou de menos, ou acordar muito cedo;
• Sentir-se cansado e fraco o tempo todo, sem energia;
• Sentir-se inútil, culpado, um peso para os outros;
• Sentir-se ansioso;
• Sentir dificuldade em concentrar-se, tomar decisões e dificuldade de memória;
• Ter pensamentos freqüentes de morte e suicídio.

ALGUMAS DICAS PARA IDENTIFICAR UMA POSSÍVEL DEPRESSÃO:


Pergunte...

• Sobre coisas do dia-a-dia que o indivíduo gostava de fazer, como, por exemplo ver uma novela, brincar com o cachorro, ler o jornal, escutar música... A seguir, pergunte se ele continua fazendo e tendo prazer ao fazer tais atividades.
• Se ele se anima com coisas positivas que estão para acontecer, se tem esperança.
• Se a tristeza que ele está sentindo é diferente da tristeza que ele já sentiu quando viveu outras situações difíceis.
• Sobre desejo de estar morto, ou de se matar.
• Quando, além de depressão, a pessoa mostra-se desesperada, o risco de suicídio é maior.

ATITUDES QUE CONDUZEM AO ERRO PARA IDENTIFICAR A DEPRESSÃO:


“No lugar dele eu também estaria deprimido.”

"Depressão só dá em quem tem fraqueza de caráter.”
“Você só está estressado...”
"Depressão é uma conseqüência natural do envelhecimento.”
"Só depende de você: força de vontade cura a depressão!"
"Antidepressivos são perigosos e viciam; melhor não tomá-los”



PARA SABER MAIS:

Depressão e Distimia
Bipolaridade
Esquizofrenia
Dependência Química


IDENTIFICANDO A DEPENDÊNCIA DO ÁLCOOL:

A síndrome de dependência é um conjunto de fenômenos fisiológicos, comportamentais e cognitivos no qual o uso de uma substância alcança prioridade na vida do indivíduo. Pelo menos três dos seguintes critérios devem estar presentes no último ano:

• forte desejo ou compulsão pelo consumo;
• dificuldade de controlar o consumo a partir de seu início;
• sinais e sintomas de abstinência quando o uso cessa ou é reduzido, ou uso da substância para evitar ou aliviar sintomas de abstinência;
• evidência de tolerância ao consumo do àlcool (ou seja, a pessoa parece não sentir tão fortemente os efeitos do abuso do àlcool);
• abandono de atividades e interesses em favor do uso da substância;
• persistência do uso a despeito de conseqüências nocivas.

Especificamente com o álcool, à medida que a dependência se instala, há uma tendência a beber independentemente da situação ou horário, bem como preferência por bebidas de maior teor alcoólico. Também ocorre uma rápida reinstalação da síndrome após período de abstinência (isto é, a pessoa começa a sentir rapidamente os efeitos da abstinência do consumo da bebida).


TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE:


O elemento central dos transtornos de personalidade, segundo Kurt Schneider, é que o indivíduo apresenta as seguintes características básicas:


• sofre e faz sofrer a sociedade;
• não aprende com a experiência.

Embora, de um modo geral, produzam conseqüências muito penosas para a própria pessoa, familiares e pessoas próximas, não é facilmente modificável por meio de experiências da vida; tende a se manter estável ao longo de toda a vida.

SUICÍDIO: ASPECTOS PSICOLÓGICOS

Existem estágios no desenvolvimento da intenção suicida, iniciando geralmente com a imaginação ou contemplação da idéia suicida. Posteriormente, um plano de como se matar, que pode ser implementado por meio de ensaios realísticos ou imaginários, até, finalmente, culminar em uma ação destrutiva concreta. Contudo, não podemos esquecer que o resultado de um ato suicida depende de uma multiplicidade de variáveis, nem sempre envolvendo planejamento.

Existem três características próprias do estado em que se encontra a maioria das pessoas sob risco de suicídio:

 
1. Ambivalência: é atitude interna característica das pessoas que pensam em, ou que tentam o suicídio. Quase sempre querem ao mesmo tempo alcançar a morte, mas também viver. O predomínio do desejo de vida sobre o desejo de morte é o fator que possibilita a prevenção do suicídio. Muitas pessoas em risco de suicídio estão com problemas em suas vidas e ficam nesta luta interna entre os desejos de viver e de acabar com a dor psíquica. Se for dado apoio emocional e o desejo de viver aumentar, o risco de suicídio diminuirá.
 

2. Impulsividade: o suicídio pode ser também um ato impulsivo. Como qualquer outro impulso, o impulso de cometer suicídio pode ser transitório e durar alguns minutos ou horas. Normalmente, é desencadeado por eventos negativos do dia-a-dia. Acalmando tal crise e ganhando tempo, o profissional da saúde pode ajudar a diminuir o risco suicida.   


3. Rigidez/constrição: o estado cognitivo de quem apresenta comportamento suicida é, geralmente, de constrição (aperto, retração, estreitamento). A consciência da pessoa passa a funcionar de forma dicotômica: tudo ou nada. Os pensamentos, sentimentos e ações estão constritos, quer dizer, constantemente pensam sobre suicídio como única solução e não são capazes de perceber outras maneiras de sair do problema. Ficam fixadas apenas no termino de suas vidas, e não na resolução e compreensão da causa raiz de seu problema. Pensam de forma rígida e drástica: “o único caminho é a morte”, “não há mais nada o que fazer”, “a única coisa que poderia fazer era me matar”. Análoga a esta condição é a “visão em túnel”, que representa o estreitamento das opções disponíveis de muitos indivíduos em vias de se matar.

A maioria das pessoas com idéias de morte comunica seus pensamentos e intenções suicidas. Elas, freqüentemente, dão sinais e fazem comentários sobre “querer morrer”, “sentimento de não valer pra nada”, e assim por diante. Todos esses pedidos de ajuda não podem ser ignorados.


Fique atento às frases de alerta. Por trás delas estão os sentimentos de pessoas que podem estar pensando em suicídio. São quatro os sentimentos principais de quem pensa em se matar. Todos começam com “D”: depressão, desesperança, desamparo e desespero (regra dos 4D). Nestes casos, frases de alerta + 4D, é preciso investigar cuidadosamente o risco de suicídio.


FRASES DE ALERTA:


Eu preferia estar morto”.

Eu não posso fazer nada”.
Eu não agüento mais”.
Eu sou um perdedor e um peso pros outros”.
Os outros vão ser mais felizes sem mim”.

SENTIMENTOS (4 D´s):

 
1.      depressão;
2.      desesperança;
3.      desamparo;
4.      desespero.

IDÉIAS SOBRE SUICÍDIO QUE LEVAM AO ERRO:
Se eu perguntar sobre suicídio, poderei induzir a pessoa a fazer isso”. – Questionar sobre idéias de suicídio, fazendo-o de modo sensato e franco, aumenta o vínculo com o paciente. Este se sente acolhido por um profissional cuidadoso, que se interessa pela extensão de seu sofrimento.

Ele está ameaçando suicídio apenas para manipular”. – A ameaça de suicídio sempre deve ser levada a sério. Chegar a este tipo de recurso indica que a pessoa está sofrendo e que necessita de ajuda.


Quem quer se matar, se mata mesmo”. – Essa idéia pode conduzir à imobilidade das atitudes, ou ao descuido no manejo no tratamento de pessoas sob risco. Isso não vai bloquear 100% do risco de suicidio, mas vai diminuir as chances; impedir suicidios que podem ser evitados.

 

Quem quer se matar não avisa”. – Pelo menos dois terços das pessoas que tentam ou que se matam, haviam comunicado de alguma maneira sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.

O suicídio é um ato de covardia (ou de coragem)”. – O que dirige a ação auto-inflingida é uma dor psíquica insuportável e não uma atitude de covardia ou coragem.


No lugar dele, eu também me mataria”. – Há sempre o risco de nos  identificarmos profundamente com aspectos de desamparo, depressão e desesperança da pessoa, sentindo-se impotente ao tentar ajudá-lo. Há também o perigo de se valer de um julgamento pessoal subjetivo para decidir as ações que fará ou deixará de fazer.


Veja se da próxima vez você se mata mesmo”. – O comportamento suicida exerce um impacto emocional sobre a equipe de saúde no atendimento emergencial, podendo provocar sentimentos de franca hostilidade e de rejeição. Isso é capaz de impedi-la de encarar a tentativa de suicídio como um possível marco em uma trajetória pessoal acidentada, a partir do qual se podem mobilizar forças para uma mudança de vida.
Não permita e não faça este tipo de comentários. Isso apenas complica ainda mais a situação.

Quem se mata é bem diferente de quem apenas tenta”. – Diversos estudos epidemiológicos demonstraram que, vistas em conjunto, as pessoas que tentam o suicídio apresentam características diferentes daquelas que chegam a um desenlace fatal. No entanto, esses achados não deveriam funcionar como álibi para a pouca atenção dispensada aos que tentam o suicídio, mas não morrem.
A pessoa que apenas tentou o suicidio, corre riscos também. inclusive, é comprovado que uma tentativa prévia é fator de risco para uma nova tentativa.

Após uma tentativa de suicídio, uma melhora rápida das condições mentais significa que o perigo passou”. – Uma melhora rápida exige atenção redobrada, pois não significa que a crise acabou. Vale lembrar que muitos suicídios se efetivam pouco tempo após uma tentativa prévia.




COMO AJUDAR A PESSOA COM RISCO DE SUICÍDIO?

Quando as pessoas dizem “Eu estou cansado da vida” ou “Não há mais razão para eu viver”, elas geralmente são rejeitadas, ou, então, são obrigadas a ouvir sobre outras pessoas que estiveram em dificuldades piores. Nenhuma dessas atitudes ajuda a pessoa sob risco de suicídio.


O contanto inicial é muito importante. Ele deve ocorrer em um local reservado, evitando ao máximo expor a pessoa.

 
1. O primeiro passo é achar um lugar adequado, onde uma conversa tranqüila possa ser mantida com privacidade razoável.
2. O próximo passo é reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida usualmente necessitam de mais tempo para deixarem de se achar um fardo. É preciso, também, estar disponível emocionalmente para lhes dar atenção.
3. A tarefa mais importante é ouvi-las efetivamente. Conseguir esse contato e ouvir é por si só o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida.
O objetivo é preencher uma lacuna criada pela desconfiança, desespero e perda de esperança e dar à pessoa a esperança de que as coisas podem mudar para melhor.
Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não-julgamento é fundamental para facilitar a comunicação.
·        Ouça com cordialidade;
·        Trate com respeito (não critique!);
·        Coloque-se no lugar da pessoa (empatia);
·        Seja discreto e sigiloso.



COMO SE COMUNICAR:

• Ouvir atentamente, com calma.
• Entender os sentimentos da pessoa (empatia).
• Dar mensagens não-verbais de aceitação e respeito.
• Expressar respeito pelas opiniões e valores da pessoa.
• Conversar honestamente e com autenticidade.
• Mostrar sua preocupação, cuidado e afeição.
• Focalizar nos sentimentos da pessoa.



COMO NÃO SE COMUNICAR:
 
• Interromper muito freqüentemente.
• Ficar chocado ou muito emocionado.
• Dizer que você está ocupado.
• Fazer o problema parecer trivial.
• Tratar o paciente de maneira que o coloca numa posição de inferioridade.
• Dizer, simplesmente, que tudo vai ficar bem.
• Fazer perguntas indiscretas.
• Emitir julgamentos (certo x errado), tentar doutrinar.



COMO ABORDAR:

Como você se sente ultimamente?” “Existem muitos problemas na sua vida?” “O que tem tentado fazer para resolvê-los?” Em geral estas perguntas abrem espaço para as pessoas falarem de si mesmas e de como estão lidando com as dificuldades.
A partir daí, se a pessoa demonstra estar cansada de viver, parece estar querendo fugir, acha a morte atraente, ou quando a equipe de saúde suspeita que exista a possibilidade de um comportamento suicida, os seguintes aspectos necessitam ser avaliados:

• Observe o estado mental atual - Parece estar sob efeito de alguma substância? Apresenta discurso coerente, porém com pensamentos sobre morte e suicídio?;

• Plano suicida atual – quão preparada a pessoa está, grau de planejamento e quão cedo o ato está para ser realizado;
• Sistema de apoio social da pessoa (os vínculos familiares são fortes? A pessoa tem amigos que possa ajuda-lo? Os vinculos entre você e a pessoa estão fortes ultimamente, ou vocês estão meio distantes? etc.).
A melhor maneira de descobrir se uma pessoa tem pensamentos de suicídio é perguntar para ela. Ao contrário da crença popular, falar a respeito de suicídio não inocula a idéia na cabeça das pessoas. Elas até ficarão muito agradecidas e aliviadas de poder falar abertamente sobre os assuntos e questões com as quais estão se debatendo. Necessariamente, você também não terá que “carregar” o problema da pessoa, caso não se sinta momentaneamente capaz: poderá pedir ajuda para outros profissionais da equipe de saúde.

Como perguntar?


A maioria das pessoas acredita que não é fácil perguntar para o outro sobre ideação suicida e não se sente preparada para lidar com isso. Será mais fácil se você chegar ao tópico gradualmente. Desde o início tente estabelecer um vínculo que garanta a confiança e a colaboração da pessoa, pois este pode ser um momento em que ele se encontra enfraquecido, hostil e nem sempre está disposto a colaborar. Respeite a condição emocional e a situação de vida que o levou a pensar sobre suicídio, sem julgamento moral, em uma atitude de acolhimento.

Algumas questões úteis são:

• Você se sente triste?
• Você sente que ninguém se preocupa com você?
• Você sente que a vida não vale mais a pena ser vivida?
• Já pensou que seria melhor estar morto ou tem vontade de morrer?

Quando perguntar?

Desde o primeiro contato você já vai criando um momento para isso. Não existe um momento específico, cada um tem sua forma de conversar e cada caso é diferente do outro, mas aí vão umas dicas de momentos oportunos.

• Quando você percebe que a pessoa tem o sentimento de estar sendo compreendida;

• Quando a pessoa está confortável falando sobre seus sentimentos;
• Quando a pessoa está falando sobre sentimentos negativos de solidão, desamparo, etc.

O que perguntar?

Estas perguntas o ajudarão a quantificar o risco, por isso são importantes.

1. Descobrir se a pessoa tem um plano definido para cometer suicídio:

• Você fez algum plano para acabar com sua vida?
• Você tem uma idéia de como vai fazê-lo?
2. Descobrir se a pessoa tem os meios para se matar:
• Você tem pílulas, uma arma, veneno, ou outros meios?
• Os meios são facilmente disponíveis para você?
3. Descobrir se a pessoa fixou uma data:
• Você decidiu quando você planeja acabar com sua vida?
• Quando você está planejando fazê-lo?

(TODAS ESTAS PERGUNTAS DEVEM SER FEITAS COM CUIDADO, PREOCUPAÇÃO E COMPAIXÃO)

RESUMINDO:
P) Se eu perguntar sobre o suicídio, posso induzir o suicídio?
R) Não! Continue dando apoio!


P) Vou ter que carregar o problema da pessoa?
R) Não. Ajude-a, mas também procure apoio de outras pessoas, como amigos e parentes, e acima de tudo, apoio profissional (psiquiatras, terapeutas, etc)

PESSOAS SOB RISCO DE SUICÍDIO:

Como já falamos anteriormente, as pessoas que pensam sobre suicídio em geral falam sobre isso. Entretanto, existem alguns sinais que podemos procurar na história de vida e no comportamento das pessoas. Estes sinais indicam que determinada pessoa tem risco para o comportamento suicida. Portanto, deve-se ficar mais atento com aqueles que apresentam:


1. Comportamento retraído, inabilidade para se relacionar com a família e amigos, pouca rede social.

2. Doença psiquiátrica.
3. Alcoolismo.
4. Ansiedade ou pânico.
5. Mudança na personalidade, irritabilidade, pessimismo, depressão ou apatia.
6. Mudança no hábito alimentar e de sono.
7. Tentativa de suicídio anterior.
8. Odiar-se, sentimento de culpa, de se sentir sem valor ou com vergonha.
9. Uma perda recente importante – morte, divórcio, separação, etc.
10. História familiar de suicídio.
11. Desejo súbito de concluir os afazeres pessoais, organizar documentos, escrever um testamento, etc.
12. Sentimentos de solidão, impotência, desesperança.
13. Cartas de despedida.
14. Doença física crônica, limitante ou dolorosa.
15. Menção repetida de morte ou suicídio.



COMO LIDAR COM A PESSOA?

Em primeiro lugar, ao identificar o risco de suicídio, a pessoa deve ser encaminhada para atendimento com um profissional.

Existem diferentes níveis de risco para suicídio, bem como abordagens especificas.





BAIXO RISCO

A pessoa teve alguns pensamentos suicidas, como “Eu não consigo continuar”, “Eu gostaria de estar morto”, mas não fez nenhum plano.

Ação Necessária

 
• Oferecer apoio emocional. É importante ter uma equipe treinada para orientar o indivíduo a falar sobre as circunstâncias pessoais e sociais emergentes que o colocam sob risco.
• Trabalhar sobre os sentimentos suicidas. Quanto mais abertamente a pessoa fala sobre perda, isolamento e desvalorização, menos confusas suas emoções se tornam. Desabafar é uma espécie de terapia! Quando esta confusão emocional cede, a pessoa pode se tornar reflexiva; as respostas para seus problemas podem fluir mais facilmente quando ela se abre com alguém. . Este processo de reflexão é crucial, ninguém senão o próprio indivíduo pode revogar a decisão de morrer e tomar a decisão de viver.
• Focalize nos aspectos positivos da pessoa, fazendo-a falar sobre como problemas anteriores foram resolvidos sem recorrer ao suicídio. É uma forma de motivá-la, e ao mesmo tempo recuperar a confiança em si mesma.
• Pelo menos até que ela receba tratamento adequado, encontre-a em intervalos regulares e mantenha contato mais próximo.
• Nem todas as pessoas com pensamentos suicidas procurarão ajuda nos  serviços especializados, portanto, estas pessoas com baixo risco deverão ser observaas de perto.

MÉDIO RISCO


A pessoa tem pensamentos e planos, mas não tem planos de cometer suicídio imediatamente.

Ação Necessária:

• Ofereça apoio emocional, trabalhe com os sentimentos suicidas da pessoa e focalize nos aspectos positivos (já descritos acima).

• Focalize os sentimentos de ambivalência. Entenda a divisão entre os desejos de querer morrer e viver, e procure fazer com que o desejo de viver se fortaleça.
• Explore alternativas ao suicídio. Mostre-o que existem alternativas para o seu problema, na esperança de que a pessoa vá considerar ao menos uma delas.
• Faça um contrato, negocie, aqui é o momento para usar a força do vínculo existente entre você e a pessoa. Extraia uma promessa sincera do indivíduo de que ele ou ela não vai cometer suicídio:


1. Sem que se comunique com a equipe de saúde ou a você;
2. Por um período específico (por exemplo: “Prometa-me que não tentará pelo prazo de uma semana, um mês, etc”. Negocie um prazo!!)

O objetivo é ganhar tempo até conseguir ajuda especializada ou até que as medidas tomadas comecem a dar resultado.


• Encaminhe a pessoa ao psiquiatra, ou agende uma consulta o mais breve possível, dentro do período em que foi feito o contrato com a pessoa.
• Entre em contato com a família, amigos e/ou colegas e reforce seu apoio. Antes de fazer esse contato, peça autorização da pessoa, para deixá-lo ciente sobre quais informações serão dadas, preservando o sigilo.
Algumas medidas de prevenção ao suicídio que poderão ser realizadas pelos familiares/amigos/colegas, como:
- impedir o acesso, aos meios para cometer suicídio. Exemplos: esconder armas, facas, cordas, deixar medicamentos em local que a pessoas não tenha acesso, de preferência trancados, e com alguém responsável em administrá-los.
Explique que estas medidas são temporárias, até que ele/ela melhore o suficiente para reassumir o controle.

NEGOCIE COM SINCERIDADE! PEÇA O AVAL DA PESSOA PARA TOMAR AS MEDIDAS NECESSÁRIAS PARA AJUDÁ-LO!
ALTO RISCO

A pessoa tem um plano definido, tem os meios para fazê-lo, e planeja fazê-lo prontamente. Muitas vezes já tomou algumas providências prévias e parece estar se despedindo. 


Ação Necessária:

• Estar junto da pessoa. Nunca deixá-la sozinha.

• Gentilmente falar com a pessoa e remover as pílulas, faca, arma, venenos, etc. (distânciá-lo dos meios de cometer suicídio). Explicar que você está ali para ajudá-lo, protegê-lo e que no momento ele/ela parece estar com muita dificuldade para comandar a própria vida; está confuso.
• Fazer um contrato, como descrito anteriormente, tente ganhar tempo. Faça prometê-lo que irá esperar um determinado tempo antes de tentar tirar a própria vida
• Informar outros membros próximos da família e/ou amigos e reafirmar seu apoio.
• Caso você não tenha acesso rápido a um psiquiatra, entre em contato com o serviço de emergência mais próximo. Providencie uma ambulância e encaminhe a pessoa ao Pronto Socorro (psiquiátrico de preferência). Explique ao profissional que presta o atendimento o que está ocorrendo, afinal, você já conseguiu obter informações importantes.

ENCAMINHANDO A PESSOA COM RISCO DE SUICÍDIO:


Como encaminhar:

• Você deve ter tempo para explicar à pessoa a razão do acompanhamento profissional;

• Marcar a consulta;
• Esclareça à pessoa que o encaminhamento não significa que você está lavando as mãos em relação ao problema, mas que acha que uma ajuda  especializada poderá ser de grande valia;
• Veja a pessoa depois da consulta;
• Tente obter informações sobre como foi o acompanhamento;
• Mantenha contato periódico.

RECURSOS DA COMUNIDADE:

 
As fontes de apoio usualmente disponíveis são:


• Família;
• Companheiros/namorados;
• Amigos;
• Colegas;
• Lideres religiosos;
• Profissionais de saúde;
• Grupos de apoio, ex. Centro de Valorização da Vida (CVV) www.cvv.com.br ou pelo fone 141. A lista completa de postos de atendimento do CVV encontram-se no endereço: http://www.cvv.org.br/postos_cvv.pdf


Como obter estes recursos?

 
• Tente conseguir permissão da pessoa para recrutar quem possa ajudá-lo, em geral alguém de sua confiança, e depois entre em contato com essas pessoas.
• Mesmo que a permissão não seja dada, em uma situação de risco importante, tente localizar que possa ajudá-lo (profissionais, familiares, amigos, etc)
• Caso haja resistência em receber apoio de um profissional, explique que algumas vezes é mais fácil falar com um estranho do que com uma pessoa amada, para que ele ou ela não se sinta negligenciado ou ferido.
• Fale com os demais familiares e amigos sem acusá-los ou fazê-los sentirem-se culpados (aumente sua rede de apoio).
• Fique atento, também, às necessidades dos que se propuseram a ajudar.




O QUE FAZER E O QUE NÃO FAZER:


O QUE FAZER:


• Ouvir, mostrar empatia, e ficar calmo;
• Ser afetuoso e dar apoio;
• Leve a situação a sério e verifique o grau de risco;
• Pergunte sobre tentativas anteriores;
• Explore as outras saídas, além do suicídio;
• Pergunte sobre o plano de suicídio;
• Ganhe tempo – faça um contrato;
• Identifique outras formas de dar apoio emocional;
• Remova os meios, pelos quais a pessoa possa se matar;
• Tome atitudes, consiga ajuda;
• Se o risco é grande, fique com a pessoa.


O QUE NÃO FAZER:

• Ignorar a situação;
• Ficar chocado ou envergonhado e em pânico;
• Tentar se livrar do problema acionando outro serviço e considerar-se livre de qualquer ação;
• Falar que tudo vai ficar bem, sem agir para que isso aconteça;
• Desafiar a pessoa a continuar em frente;
• Fazer o problema parecer trivial;
• Dar falsas garantias;
• Jurar segredo;
• Deixar a pessoa sozinha.


É importante levar a pessoa à reflexão: porque não por na balança o que a vida pode oferecer de bom, e o que ela nos oferece de ruim? Vale a pena parar de caminhar? Esta é uma reflexão que deve ser feita com muita calma e longe do calor do momento...
Por que não revogar a decisão de morrer, e tomar a decisão de viver?


ESTRATÉGIA NACIONAL DE PREVENÇÃO DE SUICÍDIO:


Com  objetivo de reduzir taxas de suicídios e tentativas e os danos associados com comportamentos suicidas, como o impacto traumático do suicídio na família, nas comunidades, nos locais de trabalho, nas escolas, outras instituições e na sociedade brasileira, a Coordenação de Saúde Mental do Ministério da Saúde apresenta a ESTRATÉGIA NACIONAL PARA PREVENÇÃO DO SUICÍDIOLink

     LEIA MAIS:

  • Publicações da Organização Mundial de Saúde para Prevenção do Suicídio: 

     - Profissionais da saúde - equipes de saúde mental (em português): Link

    - Agentes prisionais (em inglês): Link

    - Profissionais da Saúde Primária:  Link 

    - Profissionais da Mídia: Link 

    - Grupos de Sobreviventes (em inglês): Link 

    - Professores e Educadores: Link

    - Profissionais de Aconselhamento (em inglês): Link 

    - No ambiente de trabalho (em inglês): Link


(Adaptado do Manual dirigido à profissionais da saúde em Centros de Atenção Psicossocial do Projeto ComViver)