sábado, 12 de março de 2011

SUICÍDIO




"Estou deitada em minha cama. Ouço a chuva caindo lá fora...
Aqui dentro meu coração está em mil pedacinhos...
Começo a me lembrar de um passado que está me destruindo aos poucos...
Cada lembrança é como uma faca, que tem o poder de me cortar ao meio...
Sinto as lágrimas correndo sobre minha face; tento segurar mas não consigo.
Sinto como um nó sobre a minha garganta, e não consigo respirar direito...
Fecho meus olhos e começo a pensar: "O que fiz para merecer tudo isso?"
Queria tanto voltar no tempo e mudar tudo...
Já não me sinto, não sei mais quem eu sou. Abro meus olhos e vejo as paredes; a escuridão reina sobre meu quarto...
Preciso aliviar esta dor que não quer sair...Pego a lâmina e vou cortando ...
Sinto meu sangue escorrendo pelos pulso, mas onde está meu alivio ?
Vejo aquele sangue escorrendo, e é como se estivesse libertando minha alma da escuridão...
Sinto o frio chegando; as cores começam a desaparecer... Sinto a morte ao meu lado me segurando pelos braços e me levando... Então acordo em um hospital, e percebo que a dor ainda existe...
Quando vou conseguir me livrar desta dor? Não quero mais viver, não quero ser uma casca ambulante!
Vou subindo até chegar no mais alto do prédio e pulo para minha liberdade eterna !"



SUICÍDIO:

Edwin Schneidman definiu o suicídio como “ato consciente de aniquilação auto-induzida, melhor entendida como multidimensional em um individuo carente, que define uma questão para a qual o ato é percebido como melhor solução”.
Podemos concluir, mediante esta definição, que o suicídio ocorre quando o individuo vê-se em uma situação na qual ele não enxerga uma saída; onde não há solução ou apoio para seu estado atual, e que a própria morte seria a única solução para sua própria dor.
Não se trata de um ato aleatório ou sem finalidade, pelo contrário. Trata-se do escape do problema ou da crise pela qual a pessoa passa. Trata-se, invariavelmente, de um sofrimento intenso, estando associado a necessidades frustradas ou não totalmente satisfeitas, ao sentimento de desespero, desamparo, desesperança, conflitos internos, dor  e um estresse insuportável.
O suicida geralmente emite sinais de angustia.
Mais de um milhão de pessoas cometem suicídio a cada ano, tornando-se esta a décima causa de morte no mundo. Trata-se de uma das principais causas de morte entre adolescentes e adultos com menos de 35 anos de idade. Entretanto, há uma estimativa de 10 a 20 milhões de tentativas de suicídios não-fatais a cada ano em todo o mundo.
Em todo o mundo as taxas de suicídio aumentaram 60% nos últimos 50 anos, principalmente nos países em desenvolvimento.
Em 2004, a média nacional era de 4,5 mortes por 100 mil habitantes, de acordo com um estudo feito pelo Ministério da Saúde, em parceria com universidades públicas e privadas.
Embora esta taxa de mortalidade por suicídios seja considerada baixa, regionalmente alguns estados e municípios apresentam taxas duas vezes superiores à média nacional, como, por exemplo, o estado de Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul. Nesse último, o índice de suicídios na população é de 9,8 suicídios / 100.000 habitantes, mas em determinadas faixas etárias, as taxas chegam a 30,2 / 100.000 !!!
Desde a década de 90 a Organização Mundial de Saúde (OMS) trata o suicídio como um problema de saúde pública. No Brasil, a questão foi assumida como tal em dezembro de 2005, quando o então ministro da Saúde, Saraiva Felipe, assinou uma portaria instituindo o grupo de trabalho responsável pela elaboração de políticas nacionais de prevenção ao suicídio.
Uma estratégia nacional de prevenção, como a que se organiza no Brasil, envolve uma série de atividades, em diferentes níveis. Uma vez que várias doenças mentais associam-se ao suicídio, a detecção precoce e o tratamento apropriado dessas condições são estratégias importantes na sua prevenção.
Contudo, como um sério problema de saúde pública, a prevenção do comportamento suicida, infelizmente, não é uma tarefa fácil.
O comportamento suicida vem ganhando impulso em termos numéricos e, principalmente, de impacto, como podemos ver pelos dados da Organização Mundial da Saúde (OMS):
• O número de mortes por suicídio, em termos globais, para o ano de 2.003, girou em torno de 900.000 pessoas.
• Na faixa etária entre 15 e 35 anos, o suicídio está entre as três maiores causas de morte.
• Nos últimos 45 anos, a mortalidade global por suicídio vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos).
• Em indivíduos entre 15 e 44 anos, o suicídio é a sexta causa de incapacitação.
• Para cada suicídio há, em média, 5 ou 6 pessoas próximas ao falecido que sofrem conseqüências emocionais, sociais e econômicas.
• 1,4% do ônus global ocasionado por doenças no ano 2002 foi devido a tentativas de suicídio, e estima-se que chegará a 2,4% em 2020.

Alguns fatores estão associados à maior incidência de suicídios. Podemos citar:

SEXO: homens cometem mais suicídios (índice três vezes maior), contudo, as mulheres são mais propensas a tentarem suicídio que os homens. A taxa mais alta de suicídio entre os homens está relacionada aos métodos utilizados por eles (homens usam armas de fogo, enforcamento ou precipitação de locais altos, enquanto mulheres tendem a tomar dosagens excessivas de substâncias como drogas, medicamentos ou veneno, mas estão começando a usar armas de fogo mais frequentemente do que a anos atrás).

IDADE: as taxas de suicídio aumentam com a idade, demonstranto a importância da meia-idade. Entre homens, o suicídio atinge pico e continua a aumentar após os 45 anos; entre mulheres, o maior numero de suicídios completados ocorre após os 55 anos. Os idosos tentam suicídio menos vezes que as pessoas mais jovens.

RAÇA: a taxa de suicídio entre brancos é quase duas vezes maior do que entre não-brancos, mas estes números estão sendo questionados, já que o índice de suicídio entre negros tem aumentado.
 
ESTADO CIVIL: o casamento reforçado por filhos, parece diminuir significativamente os riscos de suicídios. Entre pessoas casadas, a taxa é de 11 por 100.000, já as pessoas solteira, jamais casadas, tem índice duas vezes maior.

OCUPAÇÃO: quanto mais alta a posição social do individuo, maior o risco de suicídio, mas uma queda na situação social aumenta o risco. O trabalho, em geral, protege contra o suicídio, já que a incidência de suicídio é maior entre desempregados.

SAÚDE FÍSICA: o relacionamento entre saúde e doença física com suicídio é significativo. O atendimento médico anterior parece ser um indicador de risco para o suicídio: 32% dos suicidas receberam atendimento médico nos seis meses que antecedem a morte. Por exemplo, 50% dos homens com câncer que cometem suicídio fazem-no dentro de um ano após o recebimento do diagnóstico. O câncer de mama ou genital é encontrado em 70% das mulheres com câncer que cometem suicídio.
 
SAÚDE MENTAL: O risco de suicídio entre pacientes psiquiátricos é de 3 a 12 vezes maior, se comparada àqueles que não possuem patologia mental. Os fatores psiquiátricos mais significativos no suicídio são: alcoolismo, abuso de outras substâncias, transtornos depressivos, esquizofrenia e outras doenças mentais. Os transtornos depressivos contribuem com 80% dos casos, enquanto a esquizofrenia, 10%. Entre as pessoas com patologias psiquiátricas que cometem suicídio, 25% são dependentes de álcool, e têm mais de uma patologia diagnosticada. O diagnóstico que traz, em si, maior risco para o suicídio em ambos os sexos, são os transtornos de humor.
Vinte e cinco por cento de todos os pacientes com histórico de comportamento violento ou impulsivo podem vir a cometer suicídio. Hospitalização psiquiátrica anterior também aumenta o risco.
Uma porcentagem pequena, mas significativa. Dos pacientes psiquiátricos que cometem o suicídio, fazem-no durante a internação psiquiátrica.
O risco também é maior durante os primeiros meses após a alta em uma instituição psiquiátrica.
Um estudo realizado em Iowa observou 5.000 mulheres após a alta em uma instituição psiquiátrica. Nos três primeiros meses após a alta, observou-se que o índice de suicídio era 275 vezes maior que a média da população feminina daquela cidade.

É importante estar atento a algumas patologias psiquiátricas em específico, em que o índice de suicídio é maior. São elas:


TRANSTORNOS DEPRESSIVOS: o transtorno de humor é o mais comumente associado ao suicídio, já que o risco no período no período de depressão é bem maior (o que não significa que uma tentativa possa ocorrer durante o episódio eufórico).
Entre os demais portadores de transtornos depressivos, o risco é maior no inicio ou no final do episódio depressivo. Estudos mostram que um terço ou mais dos pacientes com depressão, cometem suicídio dentro do período de seis meses após alta hospitalar, provavelmente devido a uma recaída.
Vale lembrar que a depressão não está associada somente ao suicídio concluído, mas também a tentativas sérias.


ESQUIZOFRENIA: entre eles, o risco é bem alto. Aproximadamente 10% dos esquizofrênicos morrem em virtude de suicídio, que ocorre na maioria das vezes, nos primeiros anos após o diagnóstico da doença. Como o diagnóstico ocorre muitas vezes ainda na juventude (sobretudo nos homens), é comum que a tentativa neste grupo ocorra em pessoas de pouca idade.
Cerca de 75% dos esquizofrênicos que cometem suicídio são homens não-casados. Aproximadamente 50% deles fazem uma tentativa anterior. Os sintomas depressivos comuns no transtorno estão intimamente associados ao episódio suicida, e ao contrário do que se possa imaginar, apenas uma pequena parcela cometeu suicídio por causa de instruções alucinatórias, ou para escapar de delírios persecutórios (idéia de que está sendo perseguido). Portanto, na esquizofrenia são fatores de risco para o suicídio: ser jovem, ser homem, solteiro, ter uma tentativa anterior, ser vulnerável aos sintomas da depressão e ter alta hospitalar recente.

DEPENDÊNCIA DE ÀLCOOL E OUTRAS SUBSTÂNCIAS: Até 15% dos alcoólicos cometem o suicídio. Cerca de 80% dos alcoólatras suicidas são homens. Tendem a ser brancos, de meia-idade, não casados, sem amigos, sociamente isolados e bebendo atualmente. Até 40% fizeram tentativa anterior. Até 50% deles passaram pela perda de um relacionamento afetivo intimo durante o ano anterior, e muitos são classificados como deprimidos durante o episódio suicida.
Quanto às substâncias químicas, estudos de diferentes paises mostram que existe risco aumentado para suicídio entre indivíduos que abusam de substâncias. Isso ocorre devido ao efeito intoxicante destas substâncias (overdose) e ao efeito desinibidor de muitas delas (isto é, a pessoa pode ter mais coragem em se matar após o uso de certas drogas).
O abuso de substâncias é a segunda causa mais comum de suicídio depois dos transtornos de humor. Até 25% dos toxicodependentes e alcoólicos cometem suicídio. Em adolescentes, o número é maior com álcool ou abuso de drogas, que desempenha um papel em até 70% dos suicídios. Foi recomendado que todos os toxicodependentes ou alcoólicos são investigadas por pensamentos suicidas, devido ao elevado risco de suicídio.
Contudo, vale lembrar que quando utilizo o termo "substâncias quimicas", não me refiro apenas às drogas ilicitas, mas também a medicamentos prescritos. O consumo exacerbado de medicamentos prescritos pode levar à morte. Casos mais recentes que vieram a público, foi a morte do ator Heath Ledger pelo consumo exacerbado acidental de calmantes e soniferos, e do cantor Michael Jackson, por fortes analgésicos.

(O ator Heath Ledger)

TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE: este transtorno pode ser um determinante do comportamento suicida por vários fatores: por predispor a transtornos psiquiátricos maiores, como transtorno depressivo ou dependência de álcool, por levar a dificuldade em relacionamentos, ajustamento social e isolamento, por precipitar eventos de vida indesejáveis, por prejudicar a capacidade da pessoa em lidar com outro transtorno psiquiátrico ou físico, e por dificultar o relacionamento com pessoas à sua volta (como familiares, amigos, médicos, etc.).
Estima-se que 5% dos pacientes com transtorno de personalidade anti-social cometem suicídio.
  
É importante avaliar também comportamento suicida anterior, já que este é, talvez, o melhor indicativo de que a pessoa tem risco aumentado para cometer suicídio. Estudos mostram que 40% dos pacientes deprimidos que cometem suicídio, fazem-no após uma tentativa anterior, sendo que este risco é aumentado nos primeiros três meses após a tentativa anterior.
O grande problema “escondido” neste fato é a idéia de que uma tentativa de suicídio pode ser apenas uma forma de chamar a atenção. A população em geral tem a idéia distorcida de que a pessoa que deseja cometer suicídio, o faz sem deixar avisos, e, portanto, uma tentativa de suicídio frustrada ou na qual o individuo emite “avisos” sobre está intenção, não deve ser levada a sério.
Este ponto de vista pode ser perigoso. Uma tentativa de suicídio deve ser sempre levada a sério, ainda que aparentemente seja uma tentativa de apenas chamar a atenção. Ela pode ser muito mais que isso, pode ser um pedido de socorro! 
Atriz Leila Lopes, que suicidou-se
em 2009
Outro ponto importante de atenção, é que pessoas aparentemente sem problemas também podem cometer suicidio. Em certos momentos somos surpreendidos ao saber que individuos aparentemente saudáveis e felizes podem vir a dar fim à propria vida. O comportamento suicída não tem "cara". Para isso, é importante conhecer certos "sinais" de um possivel comportamento suicida. Isso será tratado no próximo post.




VIDEO: DEPRESSÃO E SUICÍDIO







FONTES:

Ferreira, E. Suicídio. Internet. In Diário Virtual. Disponivel em: http://elaiineh1990.blogspot.com/2011/02/suicidio.html. Acesso em abril de 2011.
 

Kaplan, HI. Sadock, BJ. Grebb, JA. Compêndio de Psiquiatria: Ciências do Comportamento e Psiquiatria Clínica. 7ª ed. Artmed. São Paulo, 2005.

Bertolote JM, Fleischmann A. "Suicide and psychiatric diagnosis: a worldwide perspective" (PDF). World Psychiatry 1 (3): 181–5. 2001.

Brasil vê suicídio como questão de saúde pública. Disponível em: http://www.ipcdigital.com/br/Noticias/Brasil/Brasil-ve-suicidio-como-questao-de-saude-publica 

acesso em 03/2011.

Botega, N.J.; Barros M.A.B.; Oliveira, H.B.; Dalgalarrondo, P.; Marin-León, L. (2005). Comportamento suicida na comunidade: Fatores associados à ideação suicida. Revista Brasileira de Psiquiatria. 27(1): 2-5.

Levin JD et cols. Introduction to chemical dependency counseling. 7ª ed. Rowman & Littlefield. NJ, 2001.




2 comentários:

Marcelo Perez disse...

Muito bom o texto, me ajudou bastante. Estreio em agosto um espetáculo teatral que trata deste tema APENAS UM BLUES E UMA PAREDE PICHADA.

Abraços

Leticia Lacerda disse...

Fico feliz que este texto tenha te auxiliado em seu trabalho. A arte é o espelho da alma...

Desejo-lhe boa sorte em seu projeto.

Um grande abraço!